O que pensar de uma relação em que uma pessoa deixa de se importar com outro indivíduo para se autoafagar como benfeitora porque alimentou um cachorro de rua? Como conceber que, enquanto países como França, EUA, Inglaterra etc., fazem controle da população de animais – sim, o excesso é sacrificado –, nós, em Natal, estamos sofrendo – pela suposta bondade de alguns – com o aumento do número de infectados com a chamada ‘doença do gato’, a toxoplasmose? O que tornou possível a inversão de valores? Em que o paradeiro de um bicho se torna mais importante do que o sofrimento de um ser humano?
O Politicamente Correto (PC) desempenha aqui o seu papel. Os movimentos em defesa dos animais surgiram como uma reação ao avanço de uma concepção que pregava o uso indiscriminado de seres não humanos, algumas vezes – é preciso reconhecer –, por puro sadismo. Para uma sociedade iluminista como a nossa, fortemente influenciada por uma visão mecanicista da natureza pregada desde os tempos de Newton, era inconcebível imaginar que um animal fosse sacrificado, ou manipulado para atender os desejos e necessidades humanas. O PC trouxe um ganho civilizacional positivo, pois permitiu normatizar a relação entre humanos e seres não humanos no sentido de respeitar o ecossistema e só fazer uso dos animais não racionais em condições bem claras e eticamente sustentadas (alimentação, pesquisas controladas, etc.).
Porém, em outros aspectos, o politicamente correto acabou saindo do controle. Não. Não vou criticar os vegetarianos. Em que pese alguns, em uma visão etnocêntrica e negando a própria evolução da humanidade, chamarem os carnívoros de criminosos. Os comedores de folha se esquecem de que o homem dependeu de proteínas e aminoácidos advindos da carne animal para se desenvolver. Se tivéssemos ficado apenas na salada, muito provavelmente eu não estaria escrevendo este texto.
Mas, como ia dizendo, minha rusga argumentativa não é endereçada contra os vegetarianos. Quero criticar aqueles que alimentam animais de rua. Que “lutam”, conforme afirmam alguns, pelo “direito” dos felinos, os nossos “irmãos viventes” (meus, não!), dizem aqueles que têm uma visão religiosa da natureza e dos animais (hoje é fácil falar, mitologicamente, da natureza como algo harmônico depois de milênios de sua pacificação).
A crítica ganha especial coloração na aclamada, um pouco inadvertidamente, “cidade do sol”. Isto porque Natal está tomada pela superpopulação de gatos. Tem para todos os tamanhos, cores e gostos. Além do incômodo e da sujeira que geram, esses animais estão aumentando significativamente a quantidade de pessoas com toxoplasmose (o gato é o principal vetor da doença), que, sob determinadas condições, pode matar (ela ataca o baço, o fígado, gera paralisias e apresenta a dificuldade de ser comumente confundida com outras patologias. O diagnóstico demorado, não incomum pelas condições citadas, pode agravar o quadro do portador da bactéria).
Quem estuda na UFRN ou frequenta suas instalações sabe como a situação é grave. Soube por um professor da área de saúde da referida instituição que muitos dos infectados pela toxoplasmose na cidade são frequentadores da universidade. Ainda conforme o acadêmico, não há um número claro de notificações. No entanto, quem trabalha na linha de frente já comenta que situação é calamitosa.
É que o contato com o bichano, aparentemente inofensivo, é inevitável. Os gatos urinam e deixam suas fezes por onde andam. Dividem os espaços com os estudantes, funcionários e professores, pois é impossível inibir a ação dos animais o tempo inteiro. Daí que eles pulam, por exemplo, no bebedouro com facilidade para tomar o resto de água que fica na sua superfície. A contaminação com a doença é consequência.
Preocupada com a situação, a UFRN, internamente, e a Câmara Municipal do Natal, num debate mais amplo, propuseram um controle populacional dos animais. Era o único meio. O caminho mais razoável.
Eis que o politicamente correto, exacerbado e cego, representado pelas entidades “defensoras dos animais”, entra mais uma vez em cena, entendendo que a ação seria um verdadeiro genocídio. “Que crueldade! Como podem matar um gatinho indefeso?”, “Você gostaria que fizessem isso com você?” – questionavam sofisticamente aqueles que acham que a vida de um gato vale tanto quanto a de um ser humano.
Só que, enquanto os politicamente corretos falam em controle dos bichos como uma segunda Auschwitz, cidadãos em Natal estão sofrendo e até morrendo em decorrência da suposta bondade alheia, que não tem nada de altruísta.
Além de matar o excesso de gatos, por uma questão de saúde pública, o poder cabível deve criar legislação para punir civil e criminalmente quem alimenta bichos de rua e facilita a procriação de vetores de toxoplasmose, mas também de calazar, leptospirose etc. É assim nos países em que há uma hierarquia clara: um ser humano vale mais do que um gato, um cachorro ou um pombo. Porque não pode ser dessa maneira aqui também? Ou será que a gente prefere um gato vivo a nosso irmão, amigo, filho ou colega hospitalizado!
Autor: Daniel Menezes
Sociólogo, um dos fundadores da Carta Potiguar e membro do conselho editorial. Atuo profissionalmente na área de pesquisa de opinião e eleitoral e exerço a atividade de docência. Áreas de interesse: Política, Sociedade, Cotidiano. Email: danielgmenezes@hotmail.com
http://www.cartapotiguar.com.br/2012/03/29/morte-aos-gatos/
http://www.cartapotiguar.com.br/2012/03/29/morte-aos-gatos/
NOTA DO INSTITUTO FLUKE: PREFIRO GATO VIVO DO QUE GENTE!!!!!!!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário