sábado, 11 de agosto de 2012

Apaixonada por Gatos!!!


Confesso que sou apaixonada  por gatos. Eles entraram  tardiamente na minha vida, o que não nos impediu de viver uma relação muito intensa no seu devido tempo. Cresci ouvindo as pérolas da ignorância popular dentro da minha própria família, que nada mais são do que as fórmulas encontradas pelos humanos para justificar sua crueldade para com estes seres tão especiais ao longo de toda sua história. Desde então temos vivido uma história rica, complexa, engraçada  e emotiva que conta a dificuldade de conviver com o seu amor e a impossibilidade de viver sem ele.
                      Bicho polêmico que nos desconcerta porque não o dominamos. O homem quer o gato como espelho do cão, submisso, suplicante, temeroso, obediente e entregue. Fazendo reverência ao seu senhor e amo. O silencioso bastar-se dos gatos  frusta estas expectativas pois não se submete nem a humanização e nem as necessidades doentias do amor. Só amam a quem os merece.
                      Depois de Artur da Távola, ninguém escreveu melhor sobre os gatos. É dele esta passagem da sua Ode ao gato que acredito descrever com precisão a origem das nossas dificuldades com os gatos - as nossas,  porque para eles tudo está muito claro.
                         "Quem não se relaciona bem com o próprio inconsciente não transa o gato. Ele aparece, então, como ameaça, porque representa essa relação precária do homem com o (próprio) mistério. O gato não se relaciona com a aparência do homem. Ele vê além, por dentro e pelo avesso. Relaciona-se com a essência. Se o gesto de carinho é medroso ou substitui inaceitáveis (mas existentes) impulsos secretos de agressão, o gato sabe. E se defende do afago.
                        A relação dele é com o que está oculto, guardado e nem nós queremos, sabemos ou podemos ver. Por isso, quando surge nele um ato de entrega, de subida no colo ou manifestação de afeto, é algo muito verdadeiro, que não pode ser desdenhado. É um gesto de confiança que honra quem o recebe, pois significa um julgamento.
                       O homem não sabe ver o gato, mas o gato sabe ver o homem. Se há desarmonia real ou latente, o gato sente. Se há solidão, ele sabe e atenua como pode, ele que enfrenta a própria solidão de maneira muito mais valente que nós. Nada diz, não reclama. Afasta-se. Quem não o sabe "ler" pensa que "ele" não está ali. Presente ou ausente, ele ensina e manifesta algo. Perto ou longe, olhando ou fingindo não ver, ele está comunicando códigos que nem sempre (ou quase nunca) sabemos traduzir.
                            O gato vê mais e vê dentro e além de nós. Relaciona-se com fluídos, auras, fantasmas amigos e opressores. O gato é medium, bruxo, alquimista e parapsicólogo. É uma chance de meditação permanente a nosso lado, a ensinar paciência, atenção, silêncio e mistério. O gato é um monge silencioso, meditativo e sábio, a nos devolver as perguntas medrosas esperando que encontremos o caminho na sua busca, em vez de o querer preparado, já conhecido e trilhado".
                          O gato só aceita uma relação de independência e afeto e não cede ao homem. É chamado de falso mas na verdade é sua sabedoria que lhe dispara o alarme da nossa possível falsidade. Convivo com 6 gatos há muito tempo, todos resgatados e salvos de abandono ou de maus-tratos, mas para alguns deles, ainda estou em julgamento. Depois de vários anos ainda espero uma possível absolvição. Os compreendo e não os quero menos por isso. Sei que não vou conseguir enganá-los e espero, pacientemente, esforçando-me a cada dia para ser digna de seu amor.  Eles sabem que represento o ser mais nocivo da criação e o seu mais perigoso pedrador.

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