Eles não sabem e nem querem saber de quem é a responsabilidade, apenas aguardam urgente uma solução, sob risco de perderem a vida. Relegados à própria sorte, os animais abandonados nas ruas de Sorocaba ficam à mercê da compaixão ou ódio dos transeuntes, já que a cidade não tem vagas nos abrigos para animais abandonados. Das cinco entidades independentes que atuam em defesa dos animais no município, apenas três oferecem o serviço de abrigo (Spaso, Aspa e Capa), porém estão com a capacidade lotada. Já o setor de Zoonoses, órgão da Prefeitura que deveria, entre outras funções, apreender os animais soltos nas ruas, não cumpre a lei e só abriga em casos muito específicos. A conclusão apontada por quem cuida de cães e gatos na cidade é que falta uma política pública municipal voltada a essa área.
Na quarta-feira, um cachorro doente foi encontrado na rua e o que parecia uma ação em prol do animal causou arrependimento em quem achou que estaria ajudando. Tudo começou quando a comerciante Claudete Monteiro viu na porta de seu estabelecimento um cachorro mancando, que aparentava estar fraco e com fome. Ela deu comida e água. Como não poderia ficar com ele, resolveu levar para um abrigo, onde pudesse ser cuidado e alimentado, porém afirma que acabou se arrependendo.
Claudete conta que pediu ajuda para o também comerciante Donizette Aparecido Castilheiro Santos, vizinho de seu estabelecimento, para levar o cachorro até a Zoonoses. Chegando no local, a informação recebida foi de que o cachorro não poderia ser recolhido pelo setor por não se encaixar nas características necessárias para o abrigo e que os comerciantes deveriam procurar a Sociedade Protetora dos Animais de Sorocaba (Spaso).
Os dois colocaram o cachorro novamente no carro e se dirigiram para a Spaso, porém chegando no local a entidade afirmou que não poderia ficar com o animal porque as vagas estavam esgotadas. A veterinária da entidade fez uma avaliação geral e percebeu que estava com febre e desidratado, porém não realizou exame de sangue para constatar alguma doença. Foi aplicada uma injeção para dor, mas os comerciantes teriam de levar o animal embora.
Revoltado com o descaso, Donizette chamou a polícia e voltou para a Zoonoses junto com os policiais militares. No local, ele registrou um Boletim de Ocorrência contra a Zoonoses, que se negou a receber o animal. Diante do impasse, o cachorro acabou escapando do carro e foi deitar na sala de atendimento do setor, aguardando o seu destino. "Eu moro em apartamento, não tenho como ficar com ele", lamentou Donizette. Também sem poder ficar com o cão, Claudete, que já tem quatro gatos e um cachorro, se disse decepcionada com a Prefeitura. "Você acha que está fazendo um bem e tem de enfrentar o maior pepino", reclamou ela.
Na Zoonoses, a veterinária Daniela Mesquita afirmou que se o cachorro estivesse doente não seria cuidado, e que se ficasse teria de ser sacrificado. Os comerciantes acabaram arrependidos de terem levado o animal e saíram com receio de que o cachorro fosse morto.
À espera de um dono
Durante todo o tempo que os comerciantes estiveram na Zoonoses, funcionários do local fotografaram tudo. Donizette chegou a afirmar para a reportagem que isso seria uma forma de intimidação. "Será que eles têm direito de ficar tirando foto assim da gente?" questionou, acrescentando que não tinha receio porque não estava fazendo nada de errado. Na sede da Zoonoses, que tem um terreno amplo, havia 13 carros estacionados pertencentes à Vigilância Sanitária. "Preferia que a Prefeitura investisse menos em automóveis e que usasse o dinheiro público para cuidar dos animais", observou Donizette.
A veterinária Daniela Mesquita esclareceu que a Zoonoses só abriga animais soltos na via pública que sejam agressivos, mordedores, fêmeas no cio e filhotes com até 90 dias (porque estes são encaminhados para adoção). "Também pegamos os que estão em estado de sofrimento, agonizando, mas para sacrificar. Não ficamos com cachorro abandonado que esteja doente porque a estrutura é pequena", disse.
Durante o impasse com o cachorro, Daniela chegou a aconselhar os comerciantes a levarem o animal, já que na Zoonoses ele estaria correndo o risco de ser sacrificado. "Ele precisaria de soro, mas não temos condições de dar e também de um exame de sangue para verificar alguma doença, mas aqui na Zoonoses não temos essa função. Se ele conseguir comer e tomar água sozinho..."
Ao contrário da informação de Daniela, a Lei Municipal nº 8.354, de 27 de dezembro de 2007, conhecida como Lei de Zoonoses, em seu Capítulo V artigo 20 estabelece que a Zoonoses deve se responsabilizar não apenas pelos cães mordedores ou suspeitos de raiva ou outra zoonose, entre os itens citados pela veterinária, como também pelos "animais soltos nas vias e logradouros públicos ou em locais de livre acesso ao público, quando não identificados de pronto seus proprietários ou quando estes, a despeito de orientados e advertidos, não tomarem a providência de recolhê-los ao domicílio".
Já no artigo 27, parágrafo 1º, consta que os animais apreendidos deverão ser mantidos no órgão municipal de Controle de Zoonoses, pelo "prazo mínimo" de cinco dias úteis, contando-se o dia da apreensão, "sendo nesses dias tratados e recuperados, se necessário". Conforme a lei, cabe ainda à Zoonoses cuidar da destinação dos animais em seu abrigo, promovendo, entre outros itens, a doação ou reinserção do animal na comunidade.
O cachorro encontrado pelos comerciantes está na Zoonoses à espera de adoção e depende da agilidade do novo dono. O endereço é rua Rosa Maria de Oliveira (travessa da rua Humberto de Campos), Jd. Zulmira, ao lado do Instituto Humberto de Campos. Outras informações: (15) 3222-2484 e 3229-7313.
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